A graça é encontrar as palavras perdidas em textos em branco, por aí. Boa sorte!



domingo, 28 de novembro de 2010

Entrem Linhas

- Condenem-me.
Talvez eu apenas não saiba de coisa alguma. Pois bem, eu não sei. E como não sei. Não sei onde começa o amor, e onde termina você. Mas sei que o mar começa onde termina a visão da areia. É só poeira na minha pele, acalme-se. Não há nada que se possa fazer.
Eu estou dentro de instantes, e o doutor já vai me atender. Meu problema são os buracos que tapo com sorrisos. Tapa na cara, e é quase certo que um dia se livrem de mim. E eu? Eu me livro quando escrevo. Ando. Ai de mim. Ando na vida e é o tempo que corre. Apressado. Ando, quando? Ando, e você?
Estanco.
E o tempo também.
Ele para de um jeito que até desencana de ofegar. Não é certo isso acontecer. Se o tempo não respira eu não me arejo. Deixar de arejar, de acordo com qualquer sincero dicionário, significa não cantar ao nascer do sol com sorriso gargalhado e sem vala de ar e já... Ah! Já sei que serei a senhorRIDA da sociedade. Condenei-me pela eternidade por sonhar.
Acreditei um dia que acreditava no amor. Não, querido, não é nisso que creio. Hoje sei um pouco mais de mim. Acredito agora que acredito na poesia do amor. Porque acredito nas palavras. Como posso amar tanto vogais e consoantes, dissonantes ou harmonizadas, e ver numa frase minha alvorada? Como posso? Sinto-me viva a cada ponto final.
É um drama. Não, mentira. É um parto, é sempre um parto. Dou a luz a uma nova menina a cada página tingida com símbolos que só eu sinto. Sou uma outra porque:
- Ah! A de antes já era, se mudou agorinha.
Porque será sempre assim. Sempre que me encontro eu mudei de endereço. Porque sempre que me compreendo e me vejo, me exteriorizo. Nunca me sinto e me sou quando miro minha totalidade.
Eu devo ter sido árvore, ou ainda devo ser. Árvore sutil com crescimento interno. É por isso, portanto, que me porto tão bem entre folhas. Devo estar em busca do que fui, porque o passado é o presente da mente. Sou essa pessoa tão só, mente, sem niguém. Minto para mim ou me engano por não me crer? Quem foi que disse que só eu me entendo? Tendo em mente que meu coração eminente tem pulsação tão iminente que só de ressaltar já pulsou sangue até meu pé, nunca terei milésimos de segundo suficientes para me pegar de jeito e gravar-me num espelho para não mais me esquecer. Angústia. Quero segurar minha mão, mas minha essência se esvai em vento, atrai tufão.
Já entendi.
Acho que eu queria mesmo viver dentro de tudo que escrevo. Entrar em minhas linhas ou deixar que elas entrem em mim:
- Entrem, linhas!
Quero viver de poesia, essa poesia desmedida, incontralada, desapegada, regada de vida e amor, mas não quero sobreviver de rimas. Escrever não deve ser um sustento, uma base. Escrever deve ser em mim um giro, uma inquietação, um salto. Mas minha perna! Encontrei minha perna dormente. Não!
Alguma coisa fomenta em mim. Vomitei cada palavra, e sei, a ânsia não vai passar.

by Luiza Borba (foxy lady)

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