A graça é encontrar as palavras perdidas em textos em branco, por aí. Boa sorte!



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Trecho na passagem de ônibus

...Choveu na capital paulista. Daqui eu vou embora levando água nos cabelos, não nos olhos. Vou embora para não ficar só lá. Embora eu vá, eu pretendo voltar.
Isso pode ser o começo de um texto, ou o final de um dia. Enquanto não descubro vou sendo a minha vida, para quem sabe um dia ter um rumo, e depois ainda, ter um fim.
É engraçado mesmo, mas a nossa vida mata a gente. E eu vou dizer uma coisa: se é para brincar com algo que todos já sabem como acaba, é melhor preencher os segundos da partida à chegada com a mais linda imprecisão que não se puder entrever, não é?
É.
Talvez seja só ver para crer. Porque está tudo aí, a pairar no ar. Cada linha minha, sem nem questionar.




Meu ônibus chegou, tenho que embarcar, até porque não há mais espaço para terminar...


by Luiza Borba (foxy lady)

domingo, 28 de novembro de 2010

Entrem Linhas

- Condenem-me.
Talvez eu apenas não saiba de coisa alguma. Pois bem, eu não sei. E como não sei. Não sei onde começa o amor, e onde termina você. Mas sei que o mar começa onde termina a visão da areia. É só poeira na minha pele, acalme-se. Não há nada que se possa fazer.
Eu estou dentro de instantes, e o doutor já vai me atender. Meu problema são os buracos que tapo com sorrisos. Tapa na cara, e é quase certo que um dia se livrem de mim. E eu? Eu me livro quando escrevo. Ando. Ai de mim. Ando na vida e é o tempo que corre. Apressado. Ando, quando? Ando, e você?
Estanco.
E o tempo também.
Ele para de um jeito que até desencana de ofegar. Não é certo isso acontecer. Se o tempo não respira eu não me arejo. Deixar de arejar, de acordo com qualquer sincero dicionário, significa não cantar ao nascer do sol com sorriso gargalhado e sem vala de ar e já... Ah! Já sei que serei a senhorRIDA da sociedade. Condenei-me pela eternidade por sonhar.
Acreditei um dia que acreditava no amor. Não, querido, não é nisso que creio. Hoje sei um pouco mais de mim. Acredito agora que acredito na poesia do amor. Porque acredito nas palavras. Como posso amar tanto vogais e consoantes, dissonantes ou harmonizadas, e ver numa frase minha alvorada? Como posso? Sinto-me viva a cada ponto final.
É um drama. Não, mentira. É um parto, é sempre um parto. Dou a luz a uma nova menina a cada página tingida com símbolos que só eu sinto. Sou uma outra porque:
- Ah! A de antes já era, se mudou agorinha.
Porque será sempre assim. Sempre que me encontro eu mudei de endereço. Porque sempre que me compreendo e me vejo, me exteriorizo. Nunca me sinto e me sou quando miro minha totalidade.
Eu devo ter sido árvore, ou ainda devo ser. Árvore sutil com crescimento interno. É por isso, portanto, que me porto tão bem entre folhas. Devo estar em busca do que fui, porque o passado é o presente da mente. Sou essa pessoa tão só, mente, sem niguém. Minto para mim ou me engano por não me crer? Quem foi que disse que só eu me entendo? Tendo em mente que meu coração eminente tem pulsação tão iminente que só de ressaltar já pulsou sangue até meu pé, nunca terei milésimos de segundo suficientes para me pegar de jeito e gravar-me num espelho para não mais me esquecer. Angústia. Quero segurar minha mão, mas minha essência se esvai em vento, atrai tufão.
Já entendi.
Acho que eu queria mesmo viver dentro de tudo que escrevo. Entrar em minhas linhas ou deixar que elas entrem em mim:
- Entrem, linhas!
Quero viver de poesia, essa poesia desmedida, incontralada, desapegada, regada de vida e amor, mas não quero sobreviver de rimas. Escrever não deve ser um sustento, uma base. Escrever deve ser em mim um giro, uma inquietação, um salto. Mas minha perna! Encontrei minha perna dormente. Não!
Alguma coisa fomenta em mim. Vomitei cada palavra, e sei, a ânsia não vai passar.

by Luiza Borba (foxy lady)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Just Like Obama Said

-Deu certo da última vez. E era censura de 18 anos.
Caro leitor, quando leu essas duas frases, você reparou no destino? Elas querem dizer precisamente que, a menos que a pessoa seja esperta, ela terá de viver 216 meses transitando por este planeta até que consiga entrar numa sala de cinema no horário programado para aquele filme censurado. Culpamos esse procedimento ao poder. Os seres humanos costumam pensar que têm poder sobre a vida alheia. Pensam isso porque, na verdade, eles podem.
O que constantemente acontece na convivência dessa raça tão peculiar é a confusão. Nos confundimos muito ao pensar que não se pode proibir alguém de vivenciar/ assistir algo, que não se pode proibir um indivíduo de expressar-se, alimentar-se, indagar-se, conhecer-se, que não se pode matar um ser vivente. Realmente, tem coisas que não são devidas, nem certas, que não cabem em nossas regras morais. Mas não diga-me que não temos o poder de fazê-las.
Olhe para essa formiga correndo no canto da mesa: fico pensando se ela tem uma casa, uma família, talvez três formiguinhas esperem por ela para a hora do jantar, e o Sr. Formiga senta em sua cadeira e suspira sonhando com sua pretinha que está aqui perdida em minha mesa. Agora você exclamará:"Luiza, não mate a pobre formiga! Você não PODE matá-la! Pense nas consequências! Uma família inteira morrerá sem ela!".
Esse é o ponto que devo intervir. Não vê? É exatamente o contrário! Se eu quiser, eu não preciso nem de um dedo inteiro para matar esse inseto. Eu posso sim, talvez eu não deva, mas eu posso. Não é engraçado? Querido ser-que-sabe-ler, quando leu minhas últimas seis frases, você reparou no destino? Nós temos poder. Já contruimos meios para ir até a lua, se tivermos vontade nós conseguimos apertar um gatilho, oferecer um copo d´água, imaginar vida em uma boneca, rir com nossos quilos a mais por sobre um cadáver morto de fome. Nós estamos plenamente aptos à crueldade, assim como nenhum outro animal. Sabia que, mesmo assim, o ser humano é a única espécie dotada de solidariedade? Irônico, isso saiu em uma pesquisa e eu atentei para que nós nos preocupamos tanto com a sobrevivência da arara azul, do mico-leão dourado, do peixe boi, sendo que na verdade, somos nós que estamos em extinção! Quantos seres humanos desses da pesquisa você conhece? Deveriam existir mais de seis bilhões.
Os seres humanos costumam pensar que têm poder sobre suas vidas, chamam isso de livre-arbítrio. Pensam isso porque, na verdade, eles podem. Assim como o nazismo podia estraçalhar os judeos. Assim como aquele soldado/piloto de avião podia soltar a bomba em Hiroshima/ Nagasaki. Assim como os terroristas podiam derrubar aviões em 11 de setembro de 2001. Assim como os americanos podiam invadir o Iraque. Assim como podemos declarar guerra!
Sim! Nós podemos! Mas será que devemos? Deixei fugir minha formiga, é hora de rever conceitos.




by Luiza Borba (foxy lady)